Por Catarina Fonseca
OS AMIGOS são a nossa rede afetiva: como sobreviveríamos, sem eles?
Penso muitas vezes que, se não tivesse amigos, a minha vida seria desesperada. É verdade que também penso isso se não tivesse sobrinhos, mãe, bacalhau à Brás, livros, festinhas e chocolate branco (não necessariamente por esta ordem) mas isso agora não interessa nada.
É triste mas só me vêm frases kitsch à cabeça, como a dos amigos serem a família que se escolhe, ou que os amigos estão connosco mesmo quando não estão. Ter amigos é um bocadinho como estar apaixonado, mas sem os AVCs da paixão (ai tomem lá mais esta kitsch, isto hoje vai ser sem dó nem piedade). Se bem que há várias formas de se exercer uma amizade. Lembro-me de uma altura em que andava em baixo, e de ter dito à minha amiga Cristina, “Olha, posso ligar-te quando estiver desesperada?”. Depois comecei a ver a conta de telemóvel, e reformulei: “Olha, posso só pensar em ligar-te quando estiver desesperada?”
Há amigas que eu tenho há mais de 20 anos e que sobreviveram a casamentos e filhos e separações. Há quem tenha reencontrado e com quem tenha construído uma amizade que nunca tivemos quando éramos crianças ranhosas. Há quem eu tenha amado em pequena e se tenha afastado até não ter quase pontos de encontro comigo. Há as pessoas com quem trabalho, que eu não escolhi como não escolhi a minha família, mas que são a minha segunda família.
Também tenho amigos ‘virtuais’, que me animam de manhã quando acordei com nuvens, que têm sempre um ‘like’ para me sustentar. Ai irrita-me tanto aquela teoria que há agora de que o Facebook leva à solidão! Até porque geralmente quem diz isso é quem lá não está. Quem é solitário por definição nunca deixa de o ser, com ou sem FB.
É verdade que temos cada vez menos paciência para os outros. Uma coisa que me irrita é quando eu digo ‘Não querem vir jantar comigo? ‘ e respondem: ‘Ai não, vem tu cá a casa’. Mas a culpa não é do Facebook. Nunca deixei de ver os meus amigos ‘reais’ por causa dos ‘virtuais’. Pelo contrário: vejo-os muito mais agora. Conheço muito mais gente ‘em carne e osso’ desde que tenho gente – quê? Desossada? – a falar comigo. Há pessoas que eu nunca teria conhecido sem o FB, e sem as quais a minha vida agora – como sem chocolate branco e sem sobrinhos – seria desesperada. Todas as oportunidades para fazer amigos são boas: porquê perder mais esta, num mundo em que as pessoas já se encontram tão pouco? Entre não ter amigos nenhuns e ter um amigo internético, o que é que escolhiam? E entre ter só amigos ‘reais’ e ter os mesmos amigos reais mais outros amigos ‘virtuais’, o que é que escolhiam? E entre ter só amigos reais e ter amigos virtuais e mais amigos reais que começaram em virtuais, o que é que escolhiam?
Olhem, vão lá ligar aos vossos amigos. Não façam como eu, e não pensem só em ligar-lhes.
(Como já repararam, desta vez não estou sozinha. Estas são a Tininha e a Catarina. Estão aqui em representação das minhas amigas todas porque são as que consegui agarrar assim de repente sem que pudessem fugir – inda quiseram evadir-se mas o edifício é ‘inteligente’ e as janelas não abrem - e porque lhes disse que as desamigava se recusassem, e elas não tiveram outro remédio senão concordar de boa vontade).
OS AMIGOS são a nossa rede afetiva: como sobreviveríamos, sem eles?
Penso muitas vezes que, se não tivesse amigos, a minha vida seria desesperada. É verdade que também penso isso se não tivesse sobrinhos, mãe, bacalhau à Brás, livros, festinhas e chocolate branco (não necessariamente por esta ordem) mas isso agora não interessa nada.
É triste mas só me vêm frases kitsch à cabeça, como a dos amigos serem a família que se escolhe, ou que os amigos estão connosco mesmo quando não estão. Ter amigos é um bocadinho como estar apaixonado, mas sem os AVCs da paixão (ai tomem lá mais esta kitsch, isto hoje vai ser sem dó nem piedade). Se bem que há várias formas de se exercer uma amizade. Lembro-me de uma altura em que andava em baixo, e de ter dito à minha amiga Cristina, “Olha, posso ligar-te quando estiver desesperada?”. Depois comecei a ver a conta de telemóvel, e reformulei: “Olha, posso só pensar em ligar-te quando estiver desesperada?”
Há amigas que eu tenho há mais de 20 anos e que sobreviveram a casamentos e filhos e separações. Há quem tenha reencontrado e com quem tenha construído uma amizade que nunca tivemos quando éramos crianças ranhosas. Há quem eu tenha amado em pequena e se tenha afastado até não ter quase pontos de encontro comigo. Há as pessoas com quem trabalho, que eu não escolhi como não escolhi a minha família, mas que são a minha segunda família.
Também tenho amigos ‘virtuais’, que me animam de manhã quando acordei com nuvens, que têm sempre um ‘like’ para me sustentar. Ai irrita-me tanto aquela teoria que há agora de que o Facebook leva à solidão! Até porque geralmente quem diz isso é quem lá não está. Quem é solitário por definição nunca deixa de o ser, com ou sem FB.
É verdade que temos cada vez menos paciência para os outros. Uma coisa que me irrita é quando eu digo ‘Não querem vir jantar comigo? ‘ e respondem: ‘Ai não, vem tu cá a casa’. Mas a culpa não é do Facebook. Nunca deixei de ver os meus amigos ‘reais’ por causa dos ‘virtuais’. Pelo contrário: vejo-os muito mais agora. Conheço muito mais gente ‘em carne e osso’ desde que tenho gente – quê? Desossada? – a falar comigo. Há pessoas que eu nunca teria conhecido sem o FB, e sem as quais a minha vida agora – como sem chocolate branco e sem sobrinhos – seria desesperada. Todas as oportunidades para fazer amigos são boas: porquê perder mais esta, num mundo em que as pessoas já se encontram tão pouco? Entre não ter amigos nenhuns e ter um amigo internético, o que é que escolhiam? E entre ter só amigos ‘reais’ e ter os mesmos amigos reais mais outros amigos ‘virtuais’, o que é que escolhiam? E entre ter só amigos reais e ter amigos virtuais e mais amigos reais que começaram em virtuais, o que é que escolhiam?
Olhem, vão lá ligar aos vossos amigos. Não façam como eu, e não pensem só em ligar-lhes.
(Como já repararam, desta vez não estou sozinha. Estas são a Tininha e a Catarina. Estão aqui em representação das minhas amigas todas porque são as que consegui agarrar assim de repente sem que pudessem fugir – inda quiseram evadir-se mas o edifício é ‘inteligente’ e as janelas não abrem - e porque lhes disse que as desamigava se recusassem, e elas não tiveram outro remédio senão concordar de boa vontade).
«Activa» de Julho 2011
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