Por Alice Vieira
TENHO MAIS MEDO de entrar numa repartição de Finanças ou da Segurança Social do que no consultório do dentista.
Por isso, quando entrei na Segurança Social para pedir um documento a provar que não devo nada a ninguém, até tremia.
Tirei a senha e, oh alegria!, era a senha 35 e já iam na 14, não devia demorar muito.
Nem valia a pena sentar-me, fiquei encostada à parede a olhar para os que iam chegando, e tirando senhas, e suspirando.
Quando, hora e meia depois, ainda se continuava na senha 14, comecei a não achar graça.
Reparo então - tenho pouca prática destas coisas - numas senhas com a designação de “prioritárias”. Pergunto quais as prioridades que abrangem - mas ninguém me sabe responder.
De repente, num écran em que passa muita informação a correr, com toda a gente a sorrir muito, a dizerem-nos - a nós, que já ali estamos há horas — como tudo agora é fácil e rápido, descubro que basta uma pessoa ter mais de 65 anos para usufruir dessa benesse.
Tiro outra senha, desta vez a 20, quando já estavam a chamar a 10. Óptimo, agora é que era.
O pior é que se estava na hora do almoço - e, durante mais de uma hora, nenhuma senha mexeu.
Palavra que temi um levantamento popular. Uma senhora começou a fazer um comício às massas, “devíamos era ir com panelas a São Bento!”, mas como a maior parte não estava a perceber o que faziam ali as panelas, ela lá explicou que era uma coisa que tinha acontecido no Chile, mas na sua cabeça as coisas deviam andar um pouco baralhadas porque, dali a momentos, já era a Argentina e as mães da Praça de Maio, e nós que éramos todos uns bananas, que amochávamos tudo. Desiste de esperar e vai embora, ela e mais alguns, e por isso, ao fim de seis horas de ali estar, chamam-me para me informarem que o que eu quero não é com eles.
Deve ser a isto que o nosso primeiro chama o “simplex”.
.TENHO MAIS MEDO de entrar numa repartição de Finanças ou da Segurança Social do que no consultório do dentista.
Por isso, quando entrei na Segurança Social para pedir um documento a provar que não devo nada a ninguém, até tremia.
Tirei a senha e, oh alegria!, era a senha 35 e já iam na 14, não devia demorar muito.
Nem valia a pena sentar-me, fiquei encostada à parede a olhar para os que iam chegando, e tirando senhas, e suspirando.
Quando, hora e meia depois, ainda se continuava na senha 14, comecei a não achar graça.
Reparo então - tenho pouca prática destas coisas - numas senhas com a designação de “prioritárias”. Pergunto quais as prioridades que abrangem - mas ninguém me sabe responder.
De repente, num écran em que passa muita informação a correr, com toda a gente a sorrir muito, a dizerem-nos - a nós, que já ali estamos há horas — como tudo agora é fácil e rápido, descubro que basta uma pessoa ter mais de 65 anos para usufruir dessa benesse.
Tiro outra senha, desta vez a 20, quando já estavam a chamar a 10. Óptimo, agora é que era.
O pior é que se estava na hora do almoço - e, durante mais de uma hora, nenhuma senha mexeu.
Palavra que temi um levantamento popular. Uma senhora começou a fazer um comício às massas, “devíamos era ir com panelas a São Bento!”, mas como a maior parte não estava a perceber o que faziam ali as panelas, ela lá explicou que era uma coisa que tinha acontecido no Chile, mas na sua cabeça as coisas deviam andar um pouco baralhadas porque, dali a momentos, já era a Argentina e as mães da Praça de Maio, e nós que éramos todos uns bananas, que amochávamos tudo. Desiste de esperar e vai embora, ela e mais alguns, e por isso, ao fim de seis horas de ali estar, chamam-me para me informarem que o que eu quero não é com eles.
Deve ser a isto que o nosso primeiro chama o “simplex”.
«JN» de 22 Out 10
Pois Alice Vieria. O país está cheio de simplexes. Então não é que há pouco tempo, para obter um atestado médico que era de lei levar à direcção geral de viação, tive que ir quatro vezes, uma delas de manhã muito cedo, para "apanhar vez", ao centro de saúde, onde há um médico que é o médico da minha família?
ResponderEliminarPor isso senti-me estranho quando o ex-Presidente Sampaio disse um dia destes na TV, que estamos tão bem em matéria de saúde que não há comparação entre agora e há muitas décadas atrás. Pudera, olha se houvesse! Ele há cada comparação! De resto, para pessoas na situação sócio-económica dele a afirmação seria sempre verdadeira. Felizmente.
Alice Vieira: peço(-lhe) desculpa por os meus dedos lhe terem trocado o nome.
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