Por Catarina Fonseca
DIGAM-ME LÁ, aqui que ninguém nos ouve (só para aí 220.000 leitoras e leitores): vocês admiram a pessoa com quem estão?
Aqui há uns tempos, dizia-me uma a amiga: ‘Tu já reparaste que os homens admiram sempre a mulher com quem estão?’ Podem admirá-la pelas razões mais estapafúrdias (adoro esta palavra, ainda mais que fibroblastos e sempre é mais fácil de usar): porque tem umas pestanas daqui até Nova Iorque, umas pernas daqui até Los Angeles (não vão à volta, faz favor), faz bem bacalhau à Gomes de Sá, porque joga póquer, sabe preparar um martini, cheira a relva molhada (eles não dão por isso, passem à frente), lembra-lhes a prima Anica que eles amaram aos 3 anos, ou é uma incansável defensora do meio ambiente, dos coiotes-bebé e dos pobres da Malásia.
Seja por que razão for, os homens admiram sempre a mulher com quem estão. E nós? Nós, pronto, para sermos honestas (e curtas), não. Nós, quanto mais nos fizerem sofrer, mais nós amamos o desgraçado. Para as mulheres, amar é sofrer.
Isto só me lembra uma história que a minha tia Aurora adora lembrar (não sei se já vos contei, desculpem lá, é o mal dos casamentos longos): um tipo pobretanas, planeando o golpe do baú, casou com uma senhora com muitos anos e ainda mais dinheiro, planeando esfalfá-la até à morte assim que pudesse. Durante esse ano em que estiveram casados, foi o desvario: o marido arrastou a pobre da velhinha rica por tudo quanto era atividade. Levou-a a calcorrear a muralha da China, a escalar os Himalaias, a aprender a comandar avionetas do tempo da Luftwaffe, esfalfava-a todas as manhãs com maratonas no paredão de Algés, todas as tardes no bowling do Colombo e todas as noites com sexo selvagem, e ela resistia heroicamente. Desesperado, ele resolveu comprar um descapotável para a levar a andar a 300 à hora e ver se ela arranjava, sei lá, um AVCzito. Quando guiava para casa, estampou-se numa árvore e morreu. No funeral, a viúva chorava desalmadamente e não parava de contar a toda a gente como ele tinha sido um marido dedicado e como ela se tinha divertido durante aquele único, e movimentado, ano de casada...
Depois pensei naquela amiga minha que tem um namorado giro, meigo, esperto e que a adora, mas que se embeiçou ultimamente com um idiota que não lhe liga nenhuma, que a trata com os pés e que lhe foge com as pratas, ao que ela diz, ‘ai ele no fundo no fundo gosta de mim!’
Pois. No fundo no fundo. Tão no fundo que só ela é que dá por isso. E quando eu pergunto, ‘Ouve lá, mas o que é que tu admiras nesse homem?’ Ela encolhe os ombros e não responde. Ou diz qualquer coisa do estilo ‘O amor não se explica’. Ai explica explica. Desculpem lá, mas explica. Ou então não é amor. É outra coisa. É dependência. Sonho. Maluquice. Medo. Sei lá, fome. Olhem, já lá dizia o Álvaro de Campos, ‘Come chocolates, pequena’. Pelo menos o Toblerone não nos foge com as pratas.
(Ai lembrei-me de repente que o tema deste mês era o Futuro! Ó Deus. Que é que eu digo em 4 linhas sobre o Futuro? Olhem, como dizia a mãe do Capuchinho Vermelho, vão pela sombra. Não se esqueçam do chapéu. Usem protetor solar. E obviamente, cuidado com o lobo mau.)
DIGAM-ME LÁ, aqui que ninguém nos ouve (só para aí 220.000 leitoras e leitores): vocês admiram a pessoa com quem estão?
Aqui há uns tempos, dizia-me uma a amiga: ‘Tu já reparaste que os homens admiram sempre a mulher com quem estão?’ Podem admirá-la pelas razões mais estapafúrdias (adoro esta palavra, ainda mais que fibroblastos e sempre é mais fácil de usar): porque tem umas pestanas daqui até Nova Iorque, umas pernas daqui até Los Angeles (não vão à volta, faz favor), faz bem bacalhau à Gomes de Sá, porque joga póquer, sabe preparar um martini, cheira a relva molhada (eles não dão por isso, passem à frente), lembra-lhes a prima Anica que eles amaram aos 3 anos, ou é uma incansável defensora do meio ambiente, dos coiotes-bebé e dos pobres da Malásia.
Seja por que razão for, os homens admiram sempre a mulher com quem estão. E nós? Nós, pronto, para sermos honestas (e curtas), não. Nós, quanto mais nos fizerem sofrer, mais nós amamos o desgraçado. Para as mulheres, amar é sofrer.
Isto só me lembra uma história que a minha tia Aurora adora lembrar (não sei se já vos contei, desculpem lá, é o mal dos casamentos longos): um tipo pobretanas, planeando o golpe do baú, casou com uma senhora com muitos anos e ainda mais dinheiro, planeando esfalfá-la até à morte assim que pudesse. Durante esse ano em que estiveram casados, foi o desvario: o marido arrastou a pobre da velhinha rica por tudo quanto era atividade. Levou-a a calcorrear a muralha da China, a escalar os Himalaias, a aprender a comandar avionetas do tempo da Luftwaffe, esfalfava-a todas as manhãs com maratonas no paredão de Algés, todas as tardes no bowling do Colombo e todas as noites com sexo selvagem, e ela resistia heroicamente. Desesperado, ele resolveu comprar um descapotável para a levar a andar a 300 à hora e ver se ela arranjava, sei lá, um AVCzito. Quando guiava para casa, estampou-se numa árvore e morreu. No funeral, a viúva chorava desalmadamente e não parava de contar a toda a gente como ele tinha sido um marido dedicado e como ela se tinha divertido durante aquele único, e movimentado, ano de casada...
Depois pensei naquela amiga minha que tem um namorado giro, meigo, esperto e que a adora, mas que se embeiçou ultimamente com um idiota que não lhe liga nenhuma, que a trata com os pés e que lhe foge com as pratas, ao que ela diz, ‘ai ele no fundo no fundo gosta de mim!’
Pois. No fundo no fundo. Tão no fundo que só ela é que dá por isso. E quando eu pergunto, ‘Ouve lá, mas o que é que tu admiras nesse homem?’ Ela encolhe os ombros e não responde. Ou diz qualquer coisa do estilo ‘O amor não se explica’. Ai explica explica. Desculpem lá, mas explica. Ou então não é amor. É outra coisa. É dependência. Sonho. Maluquice. Medo. Sei lá, fome. Olhem, já lá dizia o Álvaro de Campos, ‘Come chocolates, pequena’. Pelo menos o Toblerone não nos foge com as pratas.
(Ai lembrei-me de repente que o tema deste mês era o Futuro! Ó Deus. Que é que eu digo em 4 linhas sobre o Futuro? Olhem, como dizia a mãe do Capuchinho Vermelho, vão pela sombra. Não se esqueçam do chapéu. Usem protetor solar. E obviamente, cuidado com o lobo mau.)
«Activa» de Junho de 2011
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