quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Profissão: Convidada

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Por Catarina Fonseca

ADORO CASAMENTOS, embora não perceba para que é que servem. Mas isso sou eu, que sou uma insensível.

Quando eu era pequena, as pessoas casavam-se a torto e a direito.

Eu tinha casamentos praticamente todos os fins de semana. Eu e a minha avó. Atão era assim: a gente engalanava-se, metia-se no carro da noiva (a minha avó era sempre a madrinha da noiva, até aos 4 anos achei que a profissão dela era ser Madrinha e que eu estava a treinar para lhe suceder), o carro atulhado até ao cocuruto com montanhas de tule e tafetá e outras variações em branco e pó, eu a espirrar, o motorista a afastar o tule do nariz para ver o caminho, e a minha avó a dizer à noiva que não ficava bem chorar daquela maneira, que dava a ideia que preferia ir antes para a praia ou ter-se casado com o João Paulo. Chegados à igreja, davam-me um cestinho com uns anéis e explicavam-me que não desse os anéis a ninguém, e sobretudo que não os comesse. Passava a cerimónia a rosnar a quem se aproximasse dos anéis. A noiva ria. Chegava a altura em que o padre me dizia: “Podes dar-me as alianças, minha filha?”. Eu rosnava ao padre. A noiva ria. O padre tentava arrancar-me as alianças. Era o principio dos 100 metros barreiras. Eu desatava a correr igreja fora. A noiva ria. O padre gritava ‘agarrem aquela criança!’. Eu corria ainda mais. Eventualmente, a coisa tinha um final feliz (para o padre) mas frustrante (para mim). Foi aí que aprendi que era inútil fugir ao Destino, principalmente quando ele corria mais do que eu.

Quando o meu irmão casou, eu já não tinha três anos e fui promovida a madrinha. Por momentos, com as alianças na mão, ainda me apeteceu desatar a correr pelo mundo fora. Era o reflexo de Pavlov aplicado aos casamentos mas sem a baba, ai pelo menos sem a baba. Metade da família susteve a respiração. Mas eu já não tinha 3 anos, e como sou cobarde tive medo das represálias. Foi o primeiro casamento em que ninguém teve de correr atrás de mim.

Isto para vos dizer que, com ou sem alianças, as pessoas casavam-se a torto e a direito. E não percebo por que é que continuam a fazê-lo, com a taxa de divórcio nos 50%. É aquilo a que se chama um investimento a fundo perdido (não sei muito bem o que é, mas soa-me fantasticamente). Digam lá, se alguém vos viesse propor um negócio e dissesse: ‘Ah é uma fantástica oportunidade, é certo que metade dá para o torto, mas eu sou um romântico incurável.’ E nem se pode dizer ‘Ai vamos chamar o FMI e fazer eleições e salvar este casamento’.

Mas pronto. Digamos que a pessoa veja o copo meio cheio e ache que pode calhar nos primeiros 50, e além disso tudo vale a pena para se vestir de princesa. O que eu não percebo mesmo é aqueles vips que vão para a ‘Caras’ dizer que, pronto, encontraram o Zé Manel, que é o homem da vida delas, e compraram casa com ele, e tiveram três crianças com ele, sem falar no rotweiller, o Adolfo, e agora, depois de 24 anos de vida em comum, agora depois da Maria, do Joãozinho, da Carlota Alexandra, e do Adolfo a pingar veneno dos caninos, agora é que sim, agora é que estão finalmente preparados para dar o grande passo: o casamento. Quer dizer: têm uma criança com aquela pessoa, mas o grande passo é o casamento?
Não digo que, se o George Clooney se ajoelhasse aos meus pés, eu dissesse, ‘Ai ó Joca, pára lá de ver o copo meio cheio!’ Também eu (embora não pareça) sou uma romântica incurável. Mas por enquanto, continuo a preferir levar as alianças.

«Activa» de Maio 2011

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