Por Catarina Fonseca
NASCEMOS FELIZES como nascemos com cabelo castanho, olhos azuis e predisposição para bolhas nos pés, ou tornamo-nos felizes?
Tenho um amigo cronicamente infeliz. Sofre de infelicidade como outras pessoas sofrem de reumático, dores nas costas, asma ou hemorróidas. A infelicidade, nele, é quase uma forma de ser feliz. Sempre que nos encontramos, temos a mesma conversa (a seguir a ‘Porque é que toda a gente nos trata como se tivéssemos 14 anos’): afinal, por que é que vale a pena viver?
Da primeira vez, fui apanhada desprevenida. Durante uns bons minutos nem soube o que lhe responder. Finalmente, lá consegui gaguejar: “Chanel 19?”
É para vocês verem os estranhos labirintos do nosso cérebro. Só a seguir é que me veio à cabeça tudo o que me faz verdadeiramente feliz: os meus sobrinhos (especialmente a dormir), o mar da Costa Nova, gelado de cheesecake, borboletas no estômago quando nos apaixonamos, banhos de imersão com sais cor de rosa, conversas metafísicas, pessoas interessantes, livros que nos fazem ter vontade de voltar para casa. Despejei-lhe tudo isso aos trambolhões. A tudo ele torcia o nariz. O mar? É gelado! Os bebés? Choram! E rematava, “E isso são pequenas coisas”. Iá? Mas não são as pequenas coisas que nos fazem verdadeiramente feliz? Quando me preparava para voltar ao ataque com novas munições a eito (“aviões! lareiras! presentes! rouxinóis! Mozart! O George Clooney?”) percebi de repente que estava a gastar o meu Clooney. Os infelizes não são convertíveis porque a felicidade não depende de qualquer coisa fora de nós. Depende de nós. De que parte de nós e em que altura da nossa vida é que a contraímos, já não sei. Temo que tenha qualquer coisa a ver com sermos amados em bebés, mas como conheço imensa gente amada em bebé que está de mal com o Universo desde que largou a chucha, não deve ser assim tão simples.
Fui portanto documentar-me. O estudo mais recente sobre a felicidade é decisivo: ser feliz não tem a ver com a pessoa que se é mas com o sítio onde se vive. E então, qual é o país mais feliz do mundo? Não, não são as Caraíbas. É a Suíça. O que faz sentido: muitos chocolates e poucos impostos. Parece-me uma boa receita para a felicidade. Não sei se a Heidi também terá alguma coisa a ver com isso. Estão empatados com a Dinamarca (também faz sentido: são todos louros e acreditam em fadas) e a seguir os islandeses. Sendo que o inquérito era de 2006, seria interessante saber se depois de terem levado com duas cacetadas na carroceria (as cinzas do Fyjfyjfyj – pronto, do Zé Manel – e a bancarrota) continuam assim tão felizes. Os mais infelizes são os moldovos. Eu nem sei onde é que fica a Moldova. Eles pelos vistos também preferiam não saber.
Conclusão: não é preciso ter praias, é preciso ter amigos e confiança em quem nos governa. Nós portugueses desconfiamos profundamente da felicidade. Aliás, capitalizamos no fado, o que me parece bem. Já que somos infelizes, ao menos que se venda muito CD sobre isso aos totós dos Suíços. Mas, ó meninos, não exagerem! Sejam lá felizes e não chateiem! Há uns tempos, a propósito daquele 7-0 no Mundial com os pobres dos Coreanos, houve um comentador que disse: ‘É preciso não entrar em euforia!’ A única pessoa que achou isto estranho era (adivinhem lá) brasileira.
NASCEMOS FELIZES como nascemos com cabelo castanho, olhos azuis e predisposição para bolhas nos pés, ou tornamo-nos felizes?
Tenho um amigo cronicamente infeliz. Sofre de infelicidade como outras pessoas sofrem de reumático, dores nas costas, asma ou hemorróidas. A infelicidade, nele, é quase uma forma de ser feliz. Sempre que nos encontramos, temos a mesma conversa (a seguir a ‘Porque é que toda a gente nos trata como se tivéssemos 14 anos’): afinal, por que é que vale a pena viver?
Da primeira vez, fui apanhada desprevenida. Durante uns bons minutos nem soube o que lhe responder. Finalmente, lá consegui gaguejar: “Chanel 19?”
É para vocês verem os estranhos labirintos do nosso cérebro. Só a seguir é que me veio à cabeça tudo o que me faz verdadeiramente feliz: os meus sobrinhos (especialmente a dormir), o mar da Costa Nova, gelado de cheesecake, borboletas no estômago quando nos apaixonamos, banhos de imersão com sais cor de rosa, conversas metafísicas, pessoas interessantes, livros que nos fazem ter vontade de voltar para casa. Despejei-lhe tudo isso aos trambolhões. A tudo ele torcia o nariz. O mar? É gelado! Os bebés? Choram! E rematava, “E isso são pequenas coisas”. Iá? Mas não são as pequenas coisas que nos fazem verdadeiramente feliz? Quando me preparava para voltar ao ataque com novas munições a eito (“aviões! lareiras! presentes! rouxinóis! Mozart! O George Clooney?”) percebi de repente que estava a gastar o meu Clooney. Os infelizes não são convertíveis porque a felicidade não depende de qualquer coisa fora de nós. Depende de nós. De que parte de nós e em que altura da nossa vida é que a contraímos, já não sei. Temo que tenha qualquer coisa a ver com sermos amados em bebés, mas como conheço imensa gente amada em bebé que está de mal com o Universo desde que largou a chucha, não deve ser assim tão simples.
Fui portanto documentar-me. O estudo mais recente sobre a felicidade é decisivo: ser feliz não tem a ver com a pessoa que se é mas com o sítio onde se vive. E então, qual é o país mais feliz do mundo? Não, não são as Caraíbas. É a Suíça. O que faz sentido: muitos chocolates e poucos impostos. Parece-me uma boa receita para a felicidade. Não sei se a Heidi também terá alguma coisa a ver com isso. Estão empatados com a Dinamarca (também faz sentido: são todos louros e acreditam em fadas) e a seguir os islandeses. Sendo que o inquérito era de 2006, seria interessante saber se depois de terem levado com duas cacetadas na carroceria (as cinzas do Fyjfyjfyj – pronto, do Zé Manel – e a bancarrota) continuam assim tão felizes. Os mais infelizes são os moldovos. Eu nem sei onde é que fica a Moldova. Eles pelos vistos também preferiam não saber.
Conclusão: não é preciso ter praias, é preciso ter amigos e confiança em quem nos governa. Nós portugueses desconfiamos profundamente da felicidade. Aliás, capitalizamos no fado, o que me parece bem. Já que somos infelizes, ao menos que se venda muito CD sobre isso aos totós dos Suíços. Mas, ó meninos, não exagerem! Sejam lá felizes e não chateiem! Há uns tempos, a propósito daquele 7-0 no Mundial com os pobres dos Coreanos, houve um comentador que disse: ‘É preciso não entrar em euforia!’ A única pessoa que achou isto estranho era (adivinhem lá) brasileira.
«Activa» de Agosto 2010
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