Por Catarina Fonseca
DIGAM-ME LÁ: em que é que Marte desalinhado com Vénus pode influenciar a minha vida, a não ser que venha vertiginosamente na direcção da terra, caso em que também já não haveria muito a fazer?
Sabem a que distância está Marte? Pode atingir 378 milhões de quilómetros! Em 2004 atingiu a distância mínima de 56 milhões. Estivemos, em resumo, quase lá. Bastava um dedinho esticado e tocávamos em Marte.
Aconteceu alguma coisa aos Carneiros como eu? Nada. Népia.
Outra coisa que me chateia é que, quando tento desconverter alguém, olham-me com ar pesaroso de quem viu a Luz e rematam sempre:
“É típico dos Carneiros. Não acreditam em nada.”
Chateia-me ser descrente, porque a vida para um descrente é dura. E o que mais me dói é que, sendo descrente, nunca consigo passar um horóscopo sem meter o nariz.
Aliás, mais do que meter o nariz, leio tudo de fio a pavio. Leio os Carneiros, leio outra vez os Carneiros (o meu ascendente também é carneiro, uma desgraça nunca vem só), depois leio os Balanças, porque um bruxo me disse uma vez que fui Balança numa outra vida (também fui lavadeira de caravelas, mas isso agora não interessa nada) , e depois leio Virgens e Escorpiões e Capricórnios a eito, porque mais vale estar preparada para qualquer eventualidade.
Saio sempre desconsolada.
Nunca encontrei um horóscopo que me dissesse preto no branco “Minha Filha! É agora! Levanta esses cornos com orgulho porque vais encontrar o Homem da Tua Vida!”
Ou: “Carneiros de todo o mundo, uni-vos: o Euromilhões vai ser vosso, em vez de ir parar ao velhinho de Odivelas do costume que vai herdar 20 milhões sem dar dois euros à AMI!”
Não.
Dizem-me coisas incompreensíveis, tipo “A sua energia vai estar em alta”, ou “a sua capacidade para entender os outros estará mais apurada”, ou “a sua intuição estará mais desenvolvida”.
Quero lá saber!
Não quero energia em alta, que me pode dar um AVC!
Não quero entender os outros quando eles querem ser inentendíveis!
E que raio quer dizer que a minha intuição vai estar desenvolvida? Algo me diz que não significa “vais encontrar o George Clooney — esperem lá, que tenho a redacção a uivar-me para, por amor de Deus, dar outro exemplo que o Clooney já enjoa, o, sei lá, o Jude Law não, que tem pestanas de menina, o Brad é quase avô, o Daniel Craig está na moda, mas parece que lhe deu uma cólica renal, pronto, o, como é que ele se chama, o “Dr. House”. Nada me diz “vais encontrar o Hugh Laurie no Oeiras Parque e ele vai-te injectar epinefrina até pedires misericórdia de joelhos!”
Não. Tenho de me contentar com a intuição.
Em resumo: não acredito, mas ainda não perdi a esperança de um dia acreditar. De um dia acordar e ver Marte pela janela e de ele me dizer “alevanta-te e anda!”.
Ou coisa do género.
DIGAM-ME LÁ: em que é que Marte desalinhado com Vénus pode influenciar a minha vida, a não ser que venha vertiginosamente na direcção da terra, caso em que também já não haveria muito a fazer?
Sabem a que distância está Marte? Pode atingir 378 milhões de quilómetros! Em 2004 atingiu a distância mínima de 56 milhões. Estivemos, em resumo, quase lá. Bastava um dedinho esticado e tocávamos em Marte.
Aconteceu alguma coisa aos Carneiros como eu? Nada. Népia.
Outra coisa que me chateia é que, quando tento desconverter alguém, olham-me com ar pesaroso de quem viu a Luz e rematam sempre:
“É típico dos Carneiros. Não acreditam em nada.”
Chateia-me ser descrente, porque a vida para um descrente é dura. E o que mais me dói é que, sendo descrente, nunca consigo passar um horóscopo sem meter o nariz.
Aliás, mais do que meter o nariz, leio tudo de fio a pavio. Leio os Carneiros, leio outra vez os Carneiros (o meu ascendente também é carneiro, uma desgraça nunca vem só), depois leio os Balanças, porque um bruxo me disse uma vez que fui Balança numa outra vida (também fui lavadeira de caravelas, mas isso agora não interessa nada) , e depois leio Virgens e Escorpiões e Capricórnios a eito, porque mais vale estar preparada para qualquer eventualidade.
Saio sempre desconsolada.
Nunca encontrei um horóscopo que me dissesse preto no branco “Minha Filha! É agora! Levanta esses cornos com orgulho porque vais encontrar o Homem da Tua Vida!”
Ou: “Carneiros de todo o mundo, uni-vos: o Euromilhões vai ser vosso, em vez de ir parar ao velhinho de Odivelas do costume que vai herdar 20 milhões sem dar dois euros à AMI!”
Não.
Dizem-me coisas incompreensíveis, tipo “A sua energia vai estar em alta”, ou “a sua capacidade para entender os outros estará mais apurada”, ou “a sua intuição estará mais desenvolvida”.
Quero lá saber!
Não quero energia em alta, que me pode dar um AVC!
Não quero entender os outros quando eles querem ser inentendíveis!
E que raio quer dizer que a minha intuição vai estar desenvolvida? Algo me diz que não significa “vais encontrar o George Clooney — esperem lá, que tenho a redacção a uivar-me para, por amor de Deus, dar outro exemplo que o Clooney já enjoa, o, sei lá, o Jude Law não, que tem pestanas de menina, o Brad é quase avô, o Daniel Craig está na moda, mas parece que lhe deu uma cólica renal, pronto, o, como é que ele se chama, o “Dr. House”. Nada me diz “vais encontrar o Hugh Laurie no Oeiras Parque e ele vai-te injectar epinefrina até pedires misericórdia de joelhos!”
Não. Tenho de me contentar com a intuição.
Em resumo: não acredito, mas ainda não perdi a esperança de um dia acreditar. De um dia acordar e ver Marte pela janela e de ele me dizer “alevanta-te e anda!”.
Ou coisa do género.
(Activa, Janeiro 2009)
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