quarta-feira, 17 de março de 2010

O que ainda falta inventar

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Por Catarina Fonseca

JÁ QUASE TUDO foi inventado, é certo, mas havia tantas coisas que nos fariam infinitamente felizes e nos transformariam a vida para sempre!

Aqui ficam apenas alguns exemplos de engenhocas que nos fariam imenso jeito.

Detector de Sacanas

- Situação: A gente está numa festa/’rave’/missa, de copo/pastilha/missal na mão, e de repente achega-se um qualquer e diz: ó Rita/minha/irmã, dá-me o teu telemóvel que te acho uma mulher inacreditável e nunca conheci ninguém como tu.
- Sem DS: A malta, esteja onde estiver e seja com que capacidades lhe sobrarem na altura, acredita instantaneamente que o tipo viu aquilo que ninguém mais viu: como você é uma pessoa absolutamente genial. Dá-lhe o seu telemóvel e fica três dias à espera que ele ligue. Ele não só não liga como sempre que a vê finge que não a conhece. Encontra-o na próxima festa/rave/missa a dizer a mesma coisa a outra.
- Com DS incorporado no seu, digamos, sutiâ: 1ª versão: Uma Voz que lhe lembra o Brad Pitt/Bob Marley/ Deus sai-lhe do peito e lembra-lhe todas as razões por que aquele não é o homem ideal para si. Infelizmente, a primeira versão do DS revelou-se completamente inútil porque a maioria das ‘informadas’ desligavam imediatamente o sensor e seguiam em frente assim mesmo. A segunda versão é constituída por um engenhoso sistema que liberta gás hilariante. A gente desata a rir na cara do tipo, mesmo que não queira, e depois é obrigada a ir à casa de banho lavar a cara. Quando volta, ele já lá não está, ou está com a autoestima de rastos, o que vai dar no mesmo.

Telecomando para os Miúdos

- Situação – O Manel quer andar de baloiço, a Maria também, o Manel prega uma galheta na Maria, a Maria desata a gritar e para animar a festa chega uma criança alheia que se senta no baloiço, caso em que o Manel e a Maria desatam os dois a gritar em coro.
- Sem TM – A pobre mãe tenta rever mentalmente todos os programas da Oprah com especialistas que ensinavam a lidar com crianças e todos os livros do Brazelton a informar que se deve deixar gritar os filhos. O Brazelton nunca deve ter tido filhos. Ou pelo menos, filhos que gritam.
- Com TM – Aponta-lhes o telecomando no botãozinho que diz ‘Birras’ na setinha do volume, e baixa-lhes o som. Depois carrega na setinha que diz ‘rewind’ até ao sítio onde se aproximou do baloiço, e leva-os rapidamente para o outro lado do parque sem nunca terem passado por baloiço nenhum. Aponta o comando à criança alheia, carrega em setinha que diz ‘Lot’ e transforma-a numa estátua de sal (pronto, está bem, num vendedor de gelados, que estátua de sal já está muito visto. Pensando melhor, é melhor não. Vendedor de gelados, em não se querendo comprar gelados, é ainda pior que um baloiço. É melhor transformá-lo numa amoroso caniche com as vacinas em dia, a que as crianças possam fazer festas). Aponta o comando ao baloiço e carrega na setinha que diz ‘Jorge’. O baloiço transforma-se imediatamente no George Clooney que a leva para o seu chalé no lago Como e se dedica a ser seu escravo sexual e a servir-lhe cafés como nomes de música clássica para o resto da vida.

Sapatos Inteligentes

- Situação – Tenta calçar aqueles sapatos de salto vertiginosamente alto/fino/finíssimo que viu na revista, onde lhe garantiam que lhe acrescentavam mais meio-metro de perna. De facto acrescentam, mas têm como efeito secundário que passa a vida a enterrar os stilettos entre as pedras da calçada portuguesa, que deve ter sido toda feita por calceteiros gay que odiavam profundamente as mulheres.
- Sem SI - No fim do dia, partindo do princípio que consegue chegar ao fim do dia, doem-lhe tanto os dedos dos pés que só se lembra das irmãs da Cinderela que tiveram de cortar os dedinhos para caberem no sapatinho de cristal. Começa a desconfiar que há qualquer coisa que todas as outras mulheres lhe estão a esconder. Quando regressa a casa aos esses pela calçada, esborracha-se nas pedras. Incapaz de se levantar, lá fica a ouvir uma velhota resmungar: “estas raparigas agora metem-se todas nas drogas e andam por aí aos caídos que é uma tristeza, gente tão nova”.
- Com SI - Os sapatos transformam-se automaticamente conforme a situação do dia. Quando sai de casa, são uns sólidos sapatos de caminhada. No local de trabalho, crescem automaticamente para 10 cm de salto se, e só se, se aproximar alguém que valha a pena (é favor não fazer analogias com outras coisas). Em estando a 10 m do ginásio, transformam-se em ténis fluorescentes com molas cor de rosa nos calcanhares e contador de calorias. Os modelos mais recentes incluem GPS e um DS incorporado, que a leva automaticamente para onde deve estar em qualquer momento da sua vida.

Instrutora de Moda

- Situação – A gente acorda verde como a princesa do Shrek, como é que ela se chamava, com vários quilos a mais como a princesa do Shrek, e o problema é que não podemos ir trabalhar com um vestido cor de rosa até aos pés. Queremos recordar a paleta de cores que nos fica bem, segundo lemos num artigo da Activa, e não conseguimos. Por qualquer razão, nada na gaveta/armário/chão nos grita: ‘veste-me e leva-me contigo para o trabalho!’.
- Sem IM – A gente apanha a primeira coisa que encontramos na gaveta/armário/chão, mesmo que não faça parte da nossa paleta, nem da paleta de qualquer outra pessoa, mesmo que nos faça gorda e nos transforme num clone da avó Emília e nos grite que nenhum homem à face da Terra gostaria de ser visto ao nosso lado num semáforo, quanto mais ao nosso lado num altar.
- Com IM – Quando acordamos, ligamos a Instrutora de Moda como ligamos o Esquentador. A Instrutora de Moda aparece no espelho como uma projecção holográfica da nossa melhor amiga, e diz-nos: “Olá, Sofia/Rita/Catarina, estás tão gira hoje! Eis como podes ficar ainda mais gira. Veste aquele top branco que juraste à tua mãezinha que nunca usarias, aquelas calças pretas que achas que nasceram para a mãe da Família Adams mas que fazem um rabo minúscuclo, ah, e onde pára o casaco cor de rosa, está na máquina há três semanas, não faz mal, podes vestir o azul, aquele que o teu ex te deu, ah, queimaste-o/ofereceste aos Emaús/aproveitaste para um esconjuro à luz do luar na Serra de Sintra, não faz mal, pronto, veste o kispo! Sim! O que tens desde o euro 94! 1894! Sim, o preto! Quero lá saber da tua paleta de cores!”

Escravo Holográfico

- Situação - O dia arrasta-se como se a força da gravidade fosse maior para nós do que para o resto do mundo. parece que andamos com botas de chumbo nos pés, como os prisioneiros daquelas prisões de alta segurança nos Estados Unidos. Só nos lembramos das penas para os condenados nos livros do Lucky Luke: 25462849 anos de trabalhos forçados. Carregamos compras. Levantamos pesos no ‘body pump’. Carregamos a criança. E o carrinho da criança. E a mala da infindável tralha de que a criança precisa. E depois, ainda temos que vestir e despir, que dá uma grande trabalheira!
- Sem EH – Desenvolvemos olheiras perpétuas, o Zé Manel começa a fazer olhinhos à Soraya que anda no body-attack de top cor de rosa que lhe acaba acima do esterno (não que ela saiba onde fica o esterno), o Luisinho traz uma mensagem da professora a dizer que é hiperactivo e disléxico e a culpa é nossa, vamos ao médico e ele encosta o estetoscótpio que é frio como as estepes da Ucrânia às nossas costeletas, manda inspirar e expirar, e diz: ‘o que a senhora tem é cansaço’.
- Com EH – Eis que entra em cena o, digamos em homenagem ao Natal, Rodolfo. O Rodolfo, é alto, espadaúdo, de olho azul e nunca diz: olha carrega tu os sacos que eu já levo aqui a grade de cerveja. O Rodolfo lava, aspira, puxa o lustro e pole as pratas sem um queixume, o Rodolfo levanta-se de noite quando o bebé chora e canta-lhe cantigas de embalar do Zeca Afonso, o Rodolfo vai connosco ao supermercado e carrega trinta packs de dez de leite meio-gordo, o Rodolfo programa do gravador de DVDs para todas as ‘Anatomias de Grey’ até ao ano 4000, o Rodolfo vai connosco ao ginásio e carrega a barra por nós, faz ele próprio 600 flexões e 516 abdominais e corre daqui até Cascais sem uma palavra de desespero, o Rodolfo acompanha-nos ao vestiário, veste-nos e despe-nos e maquilha-nos, depois leva-nos a casa e põe o banho a correr com sais cor de rosa e o patinho vibrador, enfia-nos na cama e dá-nos um beijo de boa noite e aconchega os lençóis e deita-se no chão, no tapete, depois de ter dito: ‘Até amanhã, Milady.’

Teletransporte

- Situação – Prometemos à tia Júlia que a íamos visitar ao, digamos, Texas, se ela prometesse votar no Obama. Problema: é preciso mudar de avião a meio, e antes de mudar de avião é preciso entrar nele, que dá uma grande trabalheira e por isso é que ainda não cumprimos a promessa desde que a tia Júlia ajudou a pôr o Obama lá onde ele está.
- Sem TT – Recorda-se demasiado tarde que os aviões que vão para a América nunca são o fofo ‘Pisco’ nem o, como é que ele se chama, ainda mais fofinho ‘Alexandre O’Neil’, são umas coisas gigantescas onde de certeza que vai escaqueirar o Galo de Barcelos gigante que comprou para a tia Júlia, e de certeza que o seu casaco vai acabar atochadinho de ácaros no meio de todos os outros casacos, as hospedeiras têm cara de pau e de certeza que sabem qualquer coisa que você não sabe, e ao seu lado acaba de se sentar um gajo trombudo e de barba preta com um ar muito enervado que tem ‘Atenção! Sou director-geral da Al-Caeda e pretendo fazer explodir todo este avião e respectivo conteúdo dentro de cinco minutos assim que sobrevoarmos o Fórum Picoas porque me prometeram 11 mil virgens!” escrito na testa. Tem vontade de lhe dizer que não há 11 mil virgens em todo o mundo. A não ser no Horóscopo. De certeza que ele não está a pensar no Horóscopo. Pensa se deve prevenir a hospedeira. E se ele será Escorpião.
- Com TT – Lembram-se do ‘Caminho das Estrelas’? Toda a gente teria um Teletransportador em casa, era como ter, sei lá, microondas, a gente casava-se e o sogro oferecia-nos o teletransportador, que se punha a um canto da casa de banho com o desumidificador apontado para não criar bolor. A gente era só pegar na mala e no Galo de Barcelos, abrir a porta do teletransportador, digitar a morada da tia Júlia e a quem queriámos que fosse avisado caso alguma coisa corresse mal na reagregação de moléculas (esoperam lá, isto é melhor não) e pimba. Meio segundo depois, estávamos na cozinha da tia Júlia, ou na lareira, caso fosse um daqueles teletransportadores comprados em saldo no Natal que só funciona de lareira em lareira e por isso foi muito baratinho.
Em resumo: resolvia-se a crise do petróleo, dos transportes, e dos cereais. Era a solução para o mundo! Quais energias renováveis!

´"ACTIVA" - 2009

1 comentário:

  1. Mas já se teletransportou um átomo de cálcio, algures, não sei lá muito bem onde. Por isso, teletransporta-me Scoty!

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